De Magnata da Tecnologia a Biohacker: Um Documentário Revela o Controverso Regime de Johnson com Rapamicina, Metformina e Transfusões de ‘Sangue Jovem.
Por Jardel Cassimiro | Correspondente de Ciência e Tecnologia
São Francisco, Califórnia — Bryan Johnson, o milionário americano que vendeu sua empresa de pagamentos ao PayPal por US$ 800 milhões em 2013, não está mais interessado em revolucionar o comércio digital. Sua nova obsessão? Derrotar a morte. Aos 46 anos, Johnson tornou-se o rosto mais polêmico do movimento “biohacker” global, investindo milhões em um projeto audacioso chamado Blueprint, que promete reverter seu relógio biológico para “voltar aos 18 anos”. Sua jornada, repleta de experimentos extremos e críticas da comunidade científica, será retratada no documentário “O Homem que Quer Viver para Sempre”, com estreia marcada para 1º de janeiro de 2025.
O Protocolo Blueprint: Drogas, Plasma Jovem e Uma Dieta Robótica
Johnson, que fundou a neurotecnológica Kernel após deixar o PayPal, segue um regime diário que mistura ciência de ponta e práticas questionáveis. Seu protocolo inclui:
- Farmacologia Antienvelhecimento:
- Rapamicina: Originalmente usada para prevenir rejeição em transplantes, a droga é ingerida por Johnson em microdosagens. Estudos em animais sugerem que ela pode prolongar a vida ao inibir a proteína mTOR, ligada ao envelhecimento celular. Críticos, porém, alertam para riscos de imunossupressão e falta de testes em humanos.
- Metformina: Comum no tratamento de diabetes, Johnson a usa off-label, baseado em pesquisas que associam o medicamento à redução de inflamações e danos oxidativos. A FDA, no entanto, ainda não aprovou seu uso para fins antienvelhecimento.
- NAD+ Boosters: Suplementos como o NMN (nicotinamida mononucleotídeo), que visam aumentar os níveis de NAD+, molécula crucial para reparo de DNA.
- Terapias de Alto Risco:
- Transfusões de Plasma de Seu Filho Adolescente: Johnson submete-se mensalmente a transfusões de plasma sanguíneo de seu filho de 17 anos, uma prática sem respaldo científico, mas popularizada por bilionários como Peter Thiel. A teoria? “Reciclar” proteínas jovens para regenerar tecidos.
- Estimulação Magnética Transcraniana: Sessões diárias na Kernel, sua empresa, para “otimizar” função cerebral.
- Crioterapia e Luz Vermelha: Exposição a temperaturas de -166°C e luzes de espectro específico para reduzir inflamações.
- Vigilância Biométrica Obsessiva:
Johnson monitora 70 parâmetros corporais diariamente, desde espessura da pele até marcadores de saúde mitocondrial. Seus dados, publicados em tempo real, alegam redução de 25% na velocidade de envelhecimento. “Meu fígado tem 20 anos, meu coração, 37”, declarou em um podcast.
O Documentário: Ética, Desigualdade e o Preço da Imortalidade
Dirigido pelo premiado cineasta Alex Gibney, “O Homem que Quer Viver para Sempre” não poupa críticas. Entre cenas de Johnson ingerindo 111 comprimidos diários e coletas de sangue às 5h, o filme questiona:
- Acesso Exclusivo: Com custo estimado em US$ 2 milhões/ano, o Blueprint é inalcançável para 99,9% da população. “Isso é ciência ou um playground para bilionários?”, provoca a bioeticista Harriet Washington em uma entrevista no documentário.
- Riscos Não Mapeados: O uso prolongado de rapamicina e metformina pode causar efeitos colaterais graves, como danos renais e resistência à insulina, alertam médicos.
- O Paradoxo da Juventude: “Se todos vivessem 150 anos, o planeta entraria em colapso”, argumenta o demógrafo Paul Morland em uma das cenas mais impactantes.
O Movimento da Longevidade: Bilionários na Corrida Contra o Tempo
Johnson não está sozinho. Jeff Bezos investe na Altos Labs, startup que busca rejuvenescer células, enquanto Larry Page financia a Calico, da Google, focada em terapias genéticas. A diferença? Johnson é sua própria cobaia. “Ele é um misto de visionário e charlatão”, resume David Sinclair, geneticista de Harvard e autor de “Lifespan”.
A Resposta da Ciência: Ceticismo e Curiosidade
Apesar do ceticismo, alguns pesquisadores admitem interesse. “A rapamicina tem potencial, mas não é uma fonte da juventude”, diz a Dra. Judith Campisi, do Buck Institute for Research on Aging. Já as transfusões de plasma são consideradas “pseudociência perigosa” pela maioria dos hematologistas.
Último Ato: Inspiração ou Advertência?
Enquanto o documentário se prepara para estrear, Johnson já planeja sua próxima meta: “Ter 100% dos órgãos de um jovem de 18 anos até 2030”. Seu sonho, porém, esbarra em uma questão filosófica: o que significa ser humano quando a morte vira uma opção?
Para Jardel Cassimiro, a resposta talvez esteja na própria jornada de Johnson. “Sua busca reflete um medo ancestral, mas também uma arrogância tecnológica. É um espelho da nossa era: brincamos de deuses, mas ainda não sabemos o preço.”
Jardel Cassimiro é correspondente internacional de ciência e tecnologia.
© 2025 São Miguel Web Company