BRASÍLIA – Em um movimento que busca aliar práticas pedagógicas tradicionais com as demandas do futuro, o empresário do ramo da educação privada, Jardel Cassimiro, anunciou que irá propor ao Ministério da Educação (MEC) a introdução do ensino do ábaco e da caligrafia em todas as escolas do ensino fundamental do Brasil. A proposta, que para alguns pode parecer inusitada no contexto educacional contemporâneo, é fundamentada em pesquisas científicas e em exemplos internacionais de sucesso.
Cassimiro, conhecido por sua atuação em redes de ensino que buscam integrar métodos clássicos e inovadores, argumenta que o uso do ábaco, um antigo instrumento de cálculo, vai muito além de ensinar operações matemáticas básicas. “O ábaco estimula o raciocínio lógico, a concentração, a memória e a agilidade mental. Ao manipular as contas, o aluno visualiza o processo matemático de forma concreta, o que facilita a compreensão dos conceitos abstratos”, explica o empresário.
A caligrafia, por sua vez, é defendida por Cassimiro como uma ferramenta essencial para o desenvolvimento da coordenação motora fina, da atenção aos detalhes e da expressão pessoal. “A escrita à mão ativa áreas do cérebro que não são ativadas quando digitamos. Além disso, a caligrafia é uma forma de arte, que permite ao aluno desenvolver sua individualidade e expressar sua criatividade”, afirma.
Respaldo científico e exemplos internacionais
A proposta de Cassimiro encontra eco em estudos científicos e em práticas educacionais de países com alto desempenho em matemática.
Ábaco: Um estudo publicado por Frank e Barner (2011) na revista Cognition, intitulado “Representing exact number visually using mental abacus”, investigou o uso do ábaco mental. Os pesquisadores descobriram que praticantes experientes de ábaco mental demonstravam uma capacidade aprimorada de representar números exatos visualmente. [Link: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3208479/]
Outra pesquisa, de Stigler (1984) no Cognitive Psychology, comparou o desempenho em tarefas matemáticas de crianças americanas e chinesas, sendo que as últimas utilizavam regularmente o ábaco. Os resultados mostraram melhor desempenho das crianças chinesas. [Link: https://psycnet.apa.org/record/1984-23981-001]
Países de referência: Em países como o Japão e a Coreia do Sul, o ábaco (conhecido como soroban no Japão) é amplamente utilizado nas escolas e em cursos extracurriculares. A prática regular do soroban é associada, nesses países, não apenas à melhoria das habilidades matemáticas, mas também ao desenvolvimento da concentração, da disciplina e da perseverança. Esses países frequentemente se destacam em rankings internacionais de desempenho em matemática, como o PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), o que reforça a percepção da eficácia do método. Embora a correlação direta entre o uso do ábaco e o sucesso nesses testes não seja a única explicação para o bom desempenho, certamente contribui de forma significativa.
Caligrafia: A importância da caligrafia é destacada em um estudo de James e Engelhardt (2012), em Trends in Neuroscience and Education. Os autores demonstraram que a escrita cursiva à mão ativa áreas cerebrais relacionadas à leitura e ao processamento da linguagem de forma mais intensa do que a digitação. [Link: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S221191261200014X]
Longcamp et al. (2008), no Handbook of the Neuroscience of Language, também reforçam que o aprendizado da escrita manual desempenha um papel crucial no reconhecimento de letras e no desenvolvimento da leitura. [Referência: Longcamp, M., et al. (2008). Learning through Hand- or Typewriting Influences Visual Recognition of New Graphic Shapes. Handbook of the Neuroscience of Language, 319-329.]
Desafios e próximos passos
A proposta de Cassimiro, embora promissora, enfrenta desafios. A implementação em larga escala exigirá investimento em formação de professores, aquisição de materiais e adaptação curricular.
O empresário, no entanto, se mostra otimista. “Com evidências sólidas e exemplos de sucesso internacional, podemos convencer o MEC e a comunidade escolar da importância de incorporar essas práticas”, conclui Cassimiro.
A proposta será formalmente apresentada ao MEC nas próximas semanas.