Coordenadoria de Direitos Humanos do Tribunal de Justiça age rápido após estupro coletivo com requintes de crueldade, buscando enquadrar agressores na Lei do Racismo por motivação LGBTfóbica.
“De nada adianta o reconhecimento do STF se os casos não forem investigados considerando a intolerância. É preciso atentar ao contexto”, afirma o juiz Caio Nunes, da Coordenadoria de Direitos Humanos.
DOIS RIACHOS, ALAGOAS, BRASIL – A pacata cidade de Dois Riachos, no interior de Alagoas, foi palco de um crime brutal que chocou o Brasil e ecoa internacionalmente. Um jovem de 27 anos, cuja identidade é preservada por razões de segurança, foi vítima de um ataque sexual coletivo com crueldade, levantando sérias suspeitas de crime de ódio motivado por homofobia.
A violência, ocorrida na última terça-feira (18), deixou uma vítima em estado grave. Segundo relatos iniciais da Polícia Civil, os agressores usaram um pedaço de madeira para estuprar o jovem, em uma demonstração de barbárie que estarreceu até mesmo o pesquisador mais experiente. Não satisfeitos, os crimes ainda ameaçaram de morte qualquer pessoa que ousasse denunciá-los.
Ação Rápida da Justiça: Em Busca de Respostas e Reparação
A Coordenadoria de Direitos Humanos (CDH) do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ-AL) agiu com celeridade. Em um ofício enviado à 37ª Delegacia de Polícia nesta sexta-feira (21), recebido pelo desembargador Tutmés Airan, presidente da CDH, e pelo juiz Caio Nunes de Barros, a Coordenadoria solicita que a investigação policial aprofunde a apuração da possível utilização homofóbica do crime.
A iniciativa da CDH baseia-se na decisão histórica do Supremo Tribunal Federal (STF) que equiparou atos de LGBTfobia aos crimes de racismo, previstos na Lei n.º 7.716/89. O objetivo é garantir que a investigação não se limite aos aspectos formais do estupro, mas que mergulhe nas raízes do ódio e da intolerância que podem ter motivado tamanha violência.
“É Preciso Ir Além”: A Voz dos Magistrados
“O STF equiparou condutas experimentais e discriminatórias contra as pessoas LGBTQIAPN+ aos crimes da Lei de Racismo”, ressalta o juiz Caio Nunes. “Mas de nada adianta esse reconhecimento legítimo se os casos não forem investigados levando em consideração a intolerância a esse grupo vulnerável.”
O magistrado enfatizou que a identificação do preconceito como motivação do crime tem implicações diretas na determinação da pena, em possíveis agravantes e aprimoradas, e na dosimetria em caso de relatórios. “É fundamental para o trabalho do Ministério Público e do Judiciário”, afirma.
O desembargador Tutmés Airan destacou a importância de uma postura ativa do sistema de justiça, desde a investigação policial até o julgamento. “A equiparação de atos LGBTfóbicos aos crimes de racismo foi realizada pelo STF para sanar uma omissão legislativa”, explica. “Não era mais possível ignorar a existência desses tipos de crime de ódio, com todas as suas especificidades e complexidades.”
Um Crime que Clama por Justiça: Implicações e Repercussões
O caso de Dois Riachos não é apenas uma tragédia local. Ele se insere em um contexto mais amplo de violência contra a população LGBTQIAPN+ no Brasil, um país que, apesar de avanços legislativos, ainda lidera rankings mundiais de crimes motivados por homofobia e transfobia.
A brutalidade do ataque, a tentativa de silenciamento das testemunhas e a possível aplicação homofóbica tornam este caso emblemático. Ele exige uma resposta firme e exemplar do sistema de justiça, não apenas para punir os culpados, mas para enviar uma mensagem clara de que a intolerância e o ódio não serão tolerados.
A Investigação Continua: Em Busca da Verdade
A Polícia Civil de Alagoas, que já havia iniciado investigações com rapidez, agora tem o desafio de aprofundar a apuração, buscando elementos que confirmem ou refutem as hipóteses de crime de ódio. O trabalho do pesquisador será crucial para que a justiça seja feita e para que este caso se torne um marco na luta contra a LGBTfobia no Brasil.